BUDDHADASA BHIKKHU
Em 1967, Buddhadāsa Bhikkhu, um dos maiores nomes do mundo buddhista na Tailândia, foi convidado para dar três palestras no Seminário Teológico Tailandês a convite do Sinclaire Thompson Memorial Lectures, uma iniciativa criada por amigos e associados de Sinclaire Thompson a fim de homenageá-lo. Thompson, ele mesmo um cristão, tinha um grande interesse no entendimento e no diálogo entre as religiões, tanto quanto tal diálogo fosse feito de maneira profunda, respeitosa e almejando a paz e a felicidade das pessoas e da sociedade. Com a morte de Thompson em 1963, a série anual de palestras foi iniciada, e Buddhadāsa Bhikkhu foi a personagem central do quinto ano.
Tendo três dias para explorar o tema do diálogo inter-religioso da maneira que desejasse, Ajahn Buddhadasa escolheu uma abordagem ousada e desafiadora. Ao invés de falar amenidades e comparar pontos óbvios de semelhanças, como a presença de uma doutrina de sabedoria ou da prática do amor e da compaixão, o grande mestre tailandês resolveu aplicar ao diálogo ‘Cristianismo e Buddhismo’ uma ferramenta interpretativa que ele já empregava, de modo igualmente revolucionário, às suas interpretações das doutrinas buddhistas. Segundo ele, o texto religioso contém em si dois tipos de linguagem, uma primeira linguagem popular que todas as pessoas conseguem facilmente entender, e uma segunda linguagem que se revela apenas a quem busca entender mais profundamente a verdade das coisas. A essa segunda linguagem ele chamou de linguagem do Dhamma. Dhamma, ou em sua forma sânscrita mais conhecida no Ocidente, Dharma, é uma palavra difícil de ser traduzida. Num sentido restrito se refere aos ensinamentos do Buddha, mas num sentido amplo, aquele utilizado pelo autor aqui, significa a verdade profunda de todas as coisas.
Para Ajahn Buddhadāsa, tanto quanto ficarmos limitados à linguagem popular, não teremos chance de realmente empreender um diálogo inter-religioso profundo; não haverá chance de paz e mútuo entendimento. Utilizando da chave interpretativa da linguagem do Dhamma, que está presente de forma velada em todos os textos religiosos, é possível alcançar uma harmonia de visão. Buddhadāsa resolve aplicar isso ao próprio texto cristão. De maneira inovadora e ousada, ele toma passagens bíblicas, tanto do Velho quanto do Novo Testamento, e revela como tais passagens, frequentemente difíceis de serem entendidas mesmo pelos cristãos, podem ser traduzidas para um ensinamento profundo e, ao mesmo tempo, claro, quando utilizamos a chave da linguagem do Dhamma...
(do Prefácio do tradutor)
Tradução: Ricardo Sasaki. Edições Nalanda, Belo Horizonte, 2014 (eBook). Para maiores informações